a minha ria


estranha beleza esta

erguida sobre

moribundos fundos

poluídos

contaminados

pela ganância do lucro

 

cantem a ria

cantem-na sim

depois de a terem silenciosamente

assassinado

cúmplices

no terem estado aqui sempre

 

vendam os postais

falem das belezas que queiram

exibam-se nas fotografias

nas ruas e nos largos

mas é de lodo

lama e podridão que falo

 

digo:

esta já não é a ria

que me viu crescer

 

esta é a ria onde ainda

há homens que colhem o pão

amargo e amargos

de se saberem tão pouco

nos actos de quem

tanto deles a barriga enche

 

esta é a ria

que me deixaram

mas que não deixo

 

(torreira; marina dos pescadores; maré cheia)

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